30 de abril é o dia!

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Paulinho Albuquerque, um dos criadores do Free Jazz Festival e curador desse e de outros festivais, trabalhou e conviveu com muitos dos melhores músicos de jazz do mundo. E neste 30 de abril, Dia Internacional do Jazz, o blog dá um toque sobre essa ligação do Comendador com o mundo do jazz.

Para ilustrar essa parada, temos aí embaixo o link para o vídeo do show Tributo a Jobim, que aconteceu no Free Jazz de 1993. Paulinho participou da bolação dessa homenagem, junto com Monique Gardenberg, Zé Nogueira e Zuza Homem de Mello. E depois, ele foi o diretor geral da coisa toda. Herbie Hancock era o diretor musical. A filmagem foi dirigida por Walter Salles Jr.  Participaram desse show, além de Herbie Hancock, o saxofonista Joe Henderson, o pianista Gonzalo Rubalcaba, a cantora Shirley Horn, o cantor Jon Hendricks, o contrabaixista Ron Carter, o baterista Harvey Mason e o percussionista Alex Acuña. O time brasileiro vinha com Oscar Castro Neves, Paulo Jobim, Gal Costa e o próprio Tom Jobim, homenageado de corpo presente.

Um dos momentos mais jazzísticos da noite foi a interpretação de O Grande Amor, de Tom e Vinícius, que começa lá pelos 18:30 minutos do primeiro tempo, com solos maravilhosos de Joe Henderson e Gonzalo Rubalcaba. E reparem na alegria e nos sorrisos dos dois violonistas, Oscar Castro Neves  e Paulo Jobim. Os caras estavam no céu, ali no meio daquelas feras fazendo aquele som todo.

A alguns metros dali, na beira do palco, apesar da tensão e da responsabilidade de ser o diretor-geral-da-porra-toda, o Comendador Albuquerque também estava com um sorriso desse tipo nos lábios.

Grandes nomes do jazz

O pessoal que vive no mundo da música, em shows, gravações e ensaios acaba desenvolvendo uma linguagem própria, um jargão, um jeito de falar. E uma das coisas mais engraçadas é essa mania de transformar os nomes dos músicos em apelidos trocadilhescos e absurdos. Paulinho Albuquerque era um que gostava dessa brincadeira…Em homenagem ao Dia Internacional do Jazz, que está chegando aí, no dia 30 de abril, vamos lembrar aqui alguns dos grandes nomes do jazz…(Essa pesquisa teve o apoio de Pedro Albuquerque, Itamar Assiere e Zé Luis Maia) .

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Um poema para a turma do jazz

Nei Lopes continua comemorando os seus 80 anos em grande estilo. Por exemplo, lançando em 2023 mais um livro: uma coleção de poemas com o título de OITENTÁCULOS (Ed. Record). E deste livro vem este poema, que ele dedicou ao Comendador Albuquerque e a todos os admiradores do jazz. É um poema meio noir, black e macabro, do jeito que a gente gosta.

LENDAS SUB-URBANAS / 6

Renomado cirurgião

Cientista e voduísta

O doutor Lewis Washington Brown

Nutria

Com doses cavalares de orgulho e preconceito

Um ódio musical letal

Contra o rutilante metal

Do sax-barítono de seu filho carnal

Fletcher Hendersen Brown.

E isto apenas porque

O particular instrumento, a seu juízo,

Ocupava o degrau

Mais baixo  da família

Concebida e criada

Pelo belga Antoine Joseph (dito Adolphe)

Sax,

Para o jovem Brown,

Bom músico, bom moço, bom filho,

A voz do instrumento

Era mais doce que a mais aveludada

Voz humana

Independentemente de sexo, gênero ou afinação.

Mas o pai

Na voz  ouvia o rugir de todos os zumbis

Inclusive os da Ku Klux Klan

Como prenúncio

De ações, eventos e acontecimentos

Maléficos/ catastróficos

Disfarçados em complexos acordes

Dodecafônicos.

Na defesa da prole

E da própria pele,

Um belo dia o doctor

Lewis Washington Brown

Respeitado cientista/voduista

Trancou com cadeado, jujus 

Alguns brownies,

E uma Pepsi-Cola tamanho família.

O jovem músico mal-aventurado

Na minúscula edícula

Da propriedade rural ancestral

Em Ruston. Louisiana.

Passados três quatro cinco dias

Noite alta, céu tristonho

Da cenográfica varanda

Que um dia o vento levaria

Doctor Brown acordou

Com pungentes gemidos

Vindos do barítono sax

Pendurado  na porta da cela

Pedindo chorando implorando

Pra entrar.

O médico foi até lá, chegou, abriu a porta

Mas de Fletcher H. Brown seu filho

Só restava o esqueleto

Semi-encoberto

Por fusas, semifusas e colcheias

Num design evocativo

Do abjeto pavilhão do Exército

Confederado.

Triste mortalha!…

Em BG,

Gemidos, ganidos, latidos, sentidos

Com que ele, o presente instrumento

Tentava sem sucesso

Executar

Um solo de Solitude

Obra-prima do imortal Edward Kennedy Ellington,

O Duke Ellington.

Nosso amigo Paulinho

Zuza Homem de Mello

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Paulinho Albuquerque no Jazz Fest de New Orleans. Feliz como pinto no lixo…

Paulinho não era tão fissurado em New York como eu. Sua atividade ligada à obra de Ivan Lins, possivelmente também a amizade com nosso tão querido Oscar Castro Neves y otras cositas que não sei quais eram, levavam-no constantemente a Los Angeles. Gostava do Jazz da West Coast embora admirasse muito o da costa leste. Significa: Él-êi (L.A.) contra Ên-uai (N.Y.). Quer dizer cool contra hard bop. Quer dizer branco contra negro. Quer dizer good manners  contra “Neeeext!”. Talvez até Brubeck contra Monk, Stan Kenton versus Duke Ellington, ou Chet Baker X Clifford Brown.

Nunca tentei convencê-lo, mas sempre cutuquei-o para conhecer o festival de New Orleans, onde já tinha ido algumas vezes. Onde fiquei sabendo sobre o Professor Longhair e James Booker, pianistas que eu próprio não conhecia apesar de ter morado e viajado tantas vezes a New York. Em New Orleans entendi o piano rude e suingado que só lá existia.

Atrevo-me a supor que foi desde a sua primeira ida ao festival de Jazz de New Orleans que Paulinho entrou fundo nas raízes, na história e na verdade do jazz.

Sinceramente achava que meu querido amigo, que eu respeitava como quem encontrava na música o que a maioria não percebia, tinha essa lacuna. Porque ele era também um cara muito ligado ao samba, e quem é ligado ao samba, evidentemente vai se dar bem em New Orleans, a raiz. Por exemplo, quem quer estudar o samba vai para o Rio ou para a Bahia, não vem pra São Paulo…E eu sempre falava com ele: “Paulinho, você tem que ir é pra  New Orleans…Lá em Los Angeles não tem muito a ver…”

Um dia, finalmente o Paulinho foi para New Orleans. Fomos juntos. E ele simplesmente adorou. Acho que aquilo abriu o horizonte dele para as raízes do jazz.

Paulinho e Zuza.

Paulinho e Zuza.

Era o festival , o New Orleans Jazz & Heritage Festival, mas que lá todo mundo só chama de ”Jazz Fest”. É maravilhoso. Centenas de shows em dois fins de semana, com um intervalo no meio, entre o fim de abril e o começo de maio. O festival acontece no hipódromo da cidade. Os shows começam às 11 da manhã e vão até 7 da noite. Em cinco ou seis palcos diferentes, tudo acontece naquela parte interna do hipódromo, que na linguagem turfística se chama “peão do prado”. E você fica circulando por ali. Além dos palcos, tem barracas com comidas típicas fortes e apimentadas da rica culinária da Louisiana. Tem objetos, peças de roupa, artesanato da NOLA (abreviatura de New Orleans Louisiana), uma feira monstra. A música do festival abrange vários estilos: blues, zydeco, gospel, jazz moderno, jazz tradicional, tem de tudo. Você escolhe um palco ou fica vendo o pedaço de um show e pula para assistir o pedaço de outro. Paulinho ficou completamente alucinado. Não só pelo festival e música, mas também pela cidade, pela comida. Lá é tudo muito original. Isso sem falar na maneira simpática e afável com que o pessoal trata todo mundo. A gente se divertia muito, trocava ideias, conhecia novos músicos, pois Paulinho era muito sociável quando o assunto era música. Em três tempos já estava íntimo pois falando inglês fluentemente comunicava-se com facilidade.

Nós ficamos amigos de alguns radialistas de New Orleans, demos entrevista para a principal rádio de lá, a WWOZ, falando sobre música brasileira, Hermeto Pascoal e essa turma toda, que, naquele tempo, ainda não tinham participado do festival. Aliás nessa época nem havia músico brasileiro no Jazz Fest. Depois mudou.

Paulinho hospedava-se no apartamento de um amigo e nos dias de folga do Jazz Fest eu ia buscá-lo de carro para cairmos fora do French Quarter, de onde praticamente não saíamos. Paulinho adorava comprar camisas na Old Navy, uma ótima loja de roupa nada cara, num shopping no caminho do aeroporto. Tornou-se fiel freguês anual da Old Navy pois era intrinsecamente um cara fiel, fidelíssimo.

E New Orleans não era só o festival. Depois do último show íamos de ônibus com todo mundo comentando sobre o que viu, aí cada um pegava uma chuveirada, dava uma deitadinha e voltava para a batalha. Depois do jantar a gente ia conferir os clubes de jazz da cidade, ver as novidades.

Jantávamos sempre juntos e eu indiquei a ele alguns lugares interessantes. Com o tempo, uns 3 ou 4 restaurantes acabaram sendo os nossos preferidos, principalmente o Ralph & Cakoo’s, os frutos do mar no bagunçado Acme Oyster. Paulinho também permaneceu fiel a todos eles, Old New Orleans Cookery, e steak houses deliciosos, o Galatoire’s e o nosso preferido, Dickie Brennan’s.

Me lembro também que comemos muitas vezes o sanduíche típico da cidade, que é o Po’ Boy (corruptela de poor boy, “garoto pobre”). É um sanduichão enorme de pernil com agregados, cebola, tomate, o diabo. Quem não conhece pede um e pensa que vai dar conta, aí vem aquele monstro e você não sabe por onde começar. Para o Paulinho era mole, dava conta de um po’ boy tranquilamente. Pra abastecer aquele corpanzil precisava bastante bateria, bem mais que eu pelo menos.

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Era um papo maravilhoso. Certa vez veio passar um fim de semana em nossa casa de Indaiatuba. Ercilia e eu ficávamos horas ouvindo as histórias que ele emendava uma na outra. A gente se entendia muito bem e ele era muito inteligente, sensível e convicto nas suas opções. Quando não gostava de alguma coisa, lascava logo de primeira. Acho isso uma qualidade, também sou assim: quando não gosto não tenho meias tintas, vai tudo no embrulho, às vezes até peco pelo excesso, mas é uma opinião autêntica. Paulinho mandava ver e às vezes criava um branco na roda. Não ligava a mínima. Xingava e se fosse preciso repetia tudo. Apesar dessa franqueza toda, o Paulinho sempre se dava bem com todo mundo.

Foi um cara inesquecível, um amigo que perdemos de repente e nos deixou arrasados. Não dava para acreditar quando o Zé Nogueira me contou pelo telefone. No dia seguinte fui para o velório no Rio, lá estava o Paulinho imóvel com a camisa do seu querido Botafogo. No fundo do peito cada um de nós sentia um ritmo batendo forte vindo daquele coração imóvel e silencioso.

Paulinho continua falando conosco diariamente. Basta olhar sua foto à minha frente, na mesa de trabalho. Penso comigo: você concorda Paulinho? E ele: manda ver.

Ricardo Silveira encontra Wes Montgomery, o Dedão de Ouro

RS e Wes -1Em 2002 Paulinho Albuquerque marcou um encontro de Ricardo Silveira com  Wes Montgomery, “The Golden Thumb”, aquele genial guitarrista que jogou a palheta fora e só tocava com o dedão, reinventando o som da guitarra no jazz… Foi num projeto chamado 4 x JAZZ, que aconteceu no Centro Cultural Banco do Brasil. Um projeto bolado, roteirizado e dirigido pelo Paulinho. Os quatro shows eram: Mauricio Einhorn toca Toots Thielemans, Cristóvão Bastos toca Dave Brubeck , Leila Pinheiro canta Billie Holiday e Ricardo Silveira toca Wes Montgomery. Recentemente, Ricardo Silveira estava mexendo no seu baú de sons e encontrou algumas gravações desse show. Um quarteto – formado por Ricardo na guitarra, Marcos Nimrichter no piano, Jorge Helder no contrabaixo e Carlos Bala na bateria – recriou vários temas do Wes Montgomery ou músicas que ele tornou famosas…Vamos ouvir aqui o Ricardo mandando a sua interpretação de duas composições do Wes: Full House e Sundown…Clica aí e som na caixa.

 

 

 

 

A pior Copa de todos os tempos

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A pior Copa de todos os tempos foi aquela na Alemanha, em 2006. O Brasil perdeu a Copa, perdeu o Bussunda e perdeu o Paulinho Albuquerque. Hoje, dia 26 de junho, faz 8 anos que o Comendador Albuquerque não está mais aqui. Foi pensando no Paulinho que fiz esse programa para a Rádio Batuta, falando de jazz e humor, duas coisas que ele levava a sério…

http://radiobatuta.com.br/programa/jazz-humor-3/

 

 

 

 

O Teste do Jazzômetro

Paulinho Albuquerque, como produtor do Free Jazz Festival, do Tim Festival e de um monte de outros shows, aplicava constantemente o Teste do Jazzômetro…

Reinaldo

Depois de muito refletir, resolvi tomar uma atitude impensada e meter a  colher num assunto espinhoso.Vou tentar responder aquela famosa pergunta: “Afinal, o que é jazz?”.

O pianista Herbie Hancock tem uma frase muito boa: ” O jazz é uma coisa difícil de definir mas muito fácil de identificar”. Acho que é por aí. Nós, os ouvintes, usamos automaticamente uma coisa que vou chamar de Teste do Jazzômetro. Funciona assim: você ouve uma música e logo começa a medir seu nível de jazzificação, isto é, observa se ali existe um alto índice de surpresa e avalia se o músico ou cantor usa muita ou pouca liberdade naquela interpretação. Na música clássica, por exemplo, está tudo escrito na partitura. Na música pop, em geral o público espera que o cantor reproduza a música exatamente do mesmo jeito que foi gravada no CD. Quer dizer, nesses casos não existe muito espaço para improviso e invenção na hora da interpretação. No jazz, cada vez que uma música é tocada ela pode sair de um jeito, e ninguém sabe o que pode acontecer.O baterista ou o baixista podem mudar de repente o andamento ou a levada, o guitarrista ou o pianista podem fazer um solo de um jeito  inesperado, encaixar uma citação de uma outra música, ou emendar uma música na outra, numa espécie de mixagem instantânea.

Para essa parada ficar mais clara, vamos fazer aqui o Teste do Jazzômetro com duas cantoras bem conhecidas. Uma é a Norah Jones, que lançou alguns CDs por um selo de jazz, o Blue Note Records, e por isso foi etiquetada como cantora de jazz. A outra é a Diana Krall. Por acaso, as duas cantam e tocam piano.

No Teste do Jazzômetro a interpretação da Diana atinge índices mais altos de jazzificação, tanto na maneira de cantar quanto no jeito de tocar piano.Vejam bem: o teste não é pra descobrir quem é a melhor cantora. As duas são boas, mas a Norah não passou no teste. E provavelmente ela nem faz questão de ser conhecida como cantora e pianista de jazz. Já a Diana, apesar de parecer só uma louraça que canta standards e bossa-nova, fez realmente fez o dever de casa. E fez o dever literalmente: estudou com o pianista Jimmy Rowles e com o baixista Ray Brown, que foi seu descobridor e mentor. Eles, e outros caras, como o baixista John Clayton e o baterista Jeff Hamilton é que são os ídolos da Diana. Tudo bem, ela se casou com o Elvis Costello, mas isso é outra história. O que importa é que ela passou no Teste do Jazzômetro principalmente por causa de suas performances ao vivo, improvisando e se relacionando perfeitamente com o baixista e o baterista. Se o Elvis Costello fica com ciúmes eu não sei, isso é outra história…

Outra que foi parada recentemente para fazer o Teste do Jazzômetro é a cantora e baixista Esperanza Spalding. Seu mais recente CD, “Radio Music Society”, para os ouvidos de um jazzófilo ortodoxo pode parecer apenas  um disco de música pop. Mas, no Teste do Jazzômetro, registrou alto nível de jazzificação. É bom lembrar que o teste não pode se deixar influenciar pelas aparências, pela roupa ou penteado do intérprete. O que interessa é o som e, de preferência, o som ao vivo. O jazz não é um ritmo, é um jeito de encarar a música. Pode acontecer no swing de New Orleans ou de New York, mas pode vir também em outras embalagens: em forma de samba, baião, bolero, funk ou reggae. Pode estar no bandolim do Hamilton de Holanda, na gaita do Maurício Einhorn e até no acordeon do Dominguinhos. O jazz está por aí. É só fazer o teste…

(artigo publicado na Revista de Domingo do Globo, em 01/07/ 2012)

Largou o emprego e se casou com a música

Sônia Ferreira

Paulinho Albuqueque foi um dos maiores presentes que a vida
me deu. Mesmo quando separados, foi sempre um farol, uma luz na
minha vida, e  além disso tínhamos o fruto de nosso amor, essa pessoa
linda que é nosso filho Pedro . Conheci Paulo em1965 no Teatro
Opinião, onde eu participava do Show ” O Samba Pede Passagem”,  com o grupo”Mensagem” . Éramos  todos estudantes e pela primeira vez eu me
apresentava, após vencer um concurso no teatro sobre o tema
“Liberdade”, cantando ” Manhã de Liberdade”.Ele foi falar comigo depois do show, mas nos perdemos de vista.Em 1967, quando fui convidada para
integrar o Quarteto em Cy , reencontrei Paulo, que era amigo de
Esdras Rubim, irmão da Semiramis, outra nova integrante do quarteto. Ai não nos desgrudamos mais. Íamos a todos os shows, cinematecas, enfim um lindo tempo em nossas vidas.

O que posso  afirmar é que nunca conheci pessoa tão ética, responsável, inteligente, engraçada, generosa, amigo dos amigos, apaixonado e dedicado por tudo o que fazia. Ele foi um  dos maiores produtores musicais, por seu bom gosto e empenho,  e o único pai que o Pedro poderia ter.

Nosso apartamento no Leblon era  um ponto de encontro da MPB. Lá vimos nascer grande parcerias. Ele começou a trabalhar em produção musical ainda nos anos 70,  com o Quarteto em Cy e Pepê  Castro Neves, para a Funarte, e depois com o Quarteto e Francis Hime.

Acho que o samba era sua paixão maior. Ele gostava de samba desde os tempos em que  frequentava todos os shows do ZiCartola,  aquelas feijoadas de Dona Zica, ia a todas as rodas de samba da cidade. Ele era um mestre na arte de contar histórias do samba e seus principais
compositores. Era só alguém falar em um samba antigo e ele
sabia a autoria e cantava  a música na hora, para espanto de todos.

E também ia aos shows de bossa nova, nos clubes e faculdades do Rio.Sem falar que  também tinha um conhecimento imenso do jazz. Foi ele quem me apresentou a todas aquelas intérpretes maravilhosas. Sua preferida era Sarah Vaughan. A discoteca dele era praticamente completa, estavam lá  todos os grandes instrumentistas do jazz. O Paulo era uma verdadeira enciclopédia!

Realmente, ele não poderia se dar bem  em nenhum emprego burocrático, que lhe exigisse terno e gravata e bateção de ponto. Lá por 74, depois de fechar o escritório de advocacia (marcas e patentes) e ir trabalhar em uma companhia americana, resolveu seguir seu caminho musical, e continuando  sendo sempre um grande aliado na defesa do direito autoral dos artistas.

Enfim, eu poderia ficar horas aqui lembrando, e me emocionando,  ao falar de alguém que foi uma das pessoas mais competentes, integras e sensíveis desse nosso meio musical, tão conturbado pelos muitos egocêntricos que estão por aí.

Só sei que o Paulo vai continuar eterno no meu coração.