Sônia Ferreira
Paulinho Albuqueque foi um dos maiores presentes que a vida
me deu. Mesmo quando separados, foi sempre um farol, uma luz na
minha vida, e além disso tínhamos o fruto de nosso amor, essa pessoa
linda que é nosso filho Pedro . Conheci Paulo em1965 no Teatro
Opinião, onde eu participava do Show ” O Samba Pede Passagem”, com o grupo”Mensagem” . Éramos todos estudantes e pela primeira vez eu me
apresentava, após vencer um concurso no teatro sobre o tema
“Liberdade”, cantando ” Manhã de Liberdade”.Ele foi falar comigo depois do show, mas nos perdemos de vista.Em 1967, quando fui convidada para
integrar o Quarteto em Cy , reencontrei Paulo, que era amigo de
Esdras Rubim, irmão da Semiramis, outra nova integrante do quarteto. Ai não nos desgrudamos mais. Íamos a todos os shows, cinematecas, enfim um lindo tempo em nossas vidas.
O que posso afirmar é que nunca conheci pessoa tão ética, responsável, inteligente, engraçada, generosa, amigo dos amigos, apaixonado e dedicado por tudo o que fazia. Ele foi um dos maiores produtores musicais, por seu bom gosto e empenho, e o único pai que o Pedro poderia ter.
Nosso apartamento no Leblon era um ponto de encontro da MPB. Lá vimos nascer grande parcerias. Ele começou a trabalhar em produção musical ainda nos anos 70, com o Quarteto em Cy e Pepê Castro Neves, para a Funarte, e depois com o Quarteto e Francis Hime.
Acho que o samba era sua paixão maior. Ele gostava de samba desde os tempos em que frequentava todos os shows do ZiCartola, aquelas feijoadas de Dona Zica, ia a todas as rodas de samba da cidade. Ele era um mestre na arte de contar histórias do samba e seus principais
compositores. Era só alguém falar em um samba antigo e ele
sabia a autoria e cantava a música na hora, para espanto de todos.
E também ia aos shows de bossa nova, nos clubes e faculdades do Rio.Sem falar que também tinha um conhecimento imenso do jazz. Foi ele quem me apresentou a todas aquelas intérpretes maravilhosas. Sua preferida era Sarah Vaughan. A discoteca dele era praticamente completa, estavam lá todos os grandes instrumentistas do jazz. O Paulo era uma verdadeira enciclopédia!
Realmente, ele não poderia se dar bem em nenhum emprego burocrático, que lhe exigisse terno e gravata e bateção de ponto. Lá por 74, depois de fechar o escritório de advocacia (marcas e patentes) e ir trabalhar em uma companhia americana, resolveu seguir seu caminho musical, e continuando sendo sempre um grande aliado na defesa do direito autoral dos artistas.
Enfim, eu poderia ficar horas aqui lembrando, e me emocionando, ao falar de alguém que foi uma das pessoas mais competentes, integras e sensíveis desse nosso meio musical, tão conturbado pelos muitos egocêntricos que estão por aí.
Só sei que o Paulo vai continuar eterno no meu coração.
Lindas fotos, lindo texto, história linda.
Que orgulho, hein, Pedroca?!
PS: vc se parece com seu pai! 🙂
Encontrei esse texto casualmente e me emocionei de ver o Paulo que aqui na Sá Ferreira tinha o apelido de Paulo Vedete , pela sua graça, imitava todo mundo da turma, enfim , ele era o máximo, inteligente, e muito espirituoso. Lembro quando vcs começaram a namorar e vc sempre vinha pra esquina da “Figurinha” (ele morava em cima) de uniforme do Colégio Normal. Aí Os papos rolavam.Época Boa. Ainda moro na mesma rua e não tem vez que passe pela esquina da Figurinha que não venha a lembrança dele. Ah a primeira vez que me inteirei da história do “Bebê de Rosemary ” foi ele quem me emprestou o livro antes do filme acontecer. Saudades daquele tempo de juventude e alegrias com a turma de Sá Ferreira.