Três vascos, um botafogo e um príncipe

O Guinga gosta de lembrar este episódio…

“Uma vez o Paulinho Albuquerque me convidou pra participar de um CD do Nei Lopes, mas ele não me explicou muito bem que ia ter um monte de participações especiais…O CD era aquele “De Letra e Música”. Ele marcou comigo às 9 da manhã no estúdio. Naquele tempo eu ainda tinha meu consutório de dentista, e antes de ir pro estúdio ainda atendi dois clientes…Aí cheguei lá e percebi que o Paulinho tinha armado uma recepção especial, uma surpresa pra mim…Dei logo de cara com dois grandes vascaínos: Martinho da Vila e  Nei Lopes. E de quebra um bofoguense ilustre: Zeca Pagodinho. E o Zeca eu ainda não conhecia pessoalmente. Naquela hora da manhã os três já estavam calibrados…E e o Zeca já foi falando comigo como se nós fossemos velhos conhecidos:

– Ô Guinga, tu que é de Madureira, lembra aí o nome daquele corte de cabelo que o pai da gente mandava o barbeiro fazer…Como era mesmo?

E eu respondi logo:

– Príncipe Danilo!

E o Pagodinho ficou animadíssimo com a lembrança.

– Príncipe Danilo! É isso aí!… Do caralho! Do caralho!

E o Paulinho ali do lado, só rindo…”

E agora, ouçam aí a participação especial que o Guinga fez no disco do Nei Lopes. A música é Sonho de Uma Noite de Verão, de Reginaldo Bessa e Nei Lopes. Guinga entrou com arranjo, violão e voz. O outro violão é do Lula Galvão, o baixo é do Jorge Helder e, na percussão, temos Ovidio Brito, Armando Marçal e Marcelinho Moreira. O CD é de 2000 e se chama De Letra e Música. Som na caixa…

Dois lances do Paulinho

O Paulinho parece que está pensando: “O Aldir é grande pra caramba! Se tiver que sair na porrada a gente se garante…”


Aldir Blanc

1. Fomos a um jogo Vasco X Flu. Paulinho, botafoguense, preocupava-se comigo, que estava bem de porre, com um retrato do lateral Orlando Lelé grudado no peito. Fomos de cadeira cativa. Uns tricolores logo atrás começaram a xingar o Vasco com palavrões cabeludíssimos. Reagi com meu estoque Estácio de ofensas raras. No intervalo, houve um começo de confronto e notamos, chocados, que éramos dois, e os caras, sem sacanagem, uns doze. Paulinho me disse: “Calma. Fui da Miguel Lemos e aprendi judô. O segredo é usar o próprio impulso  dos caras contra eles…”. Fizemos isso e apanhamos pra cacete. Paulinho, é claro, não perdeu a pose e deu várias explicações “técnicas” para a nossa acachapante derrota.

2. Paulinho ia nas gravações dos primeiros Lps do João Bosco, numa galeria em frente à Praça Arco Verde. Gostávamos do local porque havia ao lado uma espécie de centro cultural de inglês, no qual Paulinho apanhava tesouros como W.H. Auden dizendo os próprios poemas, etc. Também havia, na tal galeria, a maior concentração de manicures gostosas do planeta. Algumas até foram convidadas  para “fotos artísticas” no ateliê do Mello Menezes… Um dia, estamos lá na galeria tomando cerveja (durante a gravação de “Galos de Briga”) e um bicão invade a nossa conversa sobre Haroldo Barbosa, que adorávamos. Em tabelinha intuitiva, inventamos que Haroldo havia feito “Luminosa Manhã” apaixonadíssimo, no fim da vida, para uma certa jovem, um amor impossível… Um ano antes de Paulinho morrer – ou seja, uns 30 ANOS DEPOIS – fomos à inauguração de uma casa noturna. O Mello, de porre, estava encerrando a noitada com sua soberba interpretação de “Luminosa Manhã”, quando um cara encosta e detona: “Essa música tem uma história linda. O Haroldo Barbosa estava apaixonado por uma jovem, um amor impossível e…” Paulinho e eu rimos de chorar.

Paulinho e Aldir no momento em que inventaram o Sanduíche de Djavan.