Reinaldo
Isso o Comendador ia gostar de ver. E de ouvir. Guinga acaba de lançar um CD em parceria com o Quinteto Villa-Lobos. O título é “Rasgando Seda”. Por acaso eu estava no estúdio no primeiro dia de gravação, fazendo uma visita e apreciando os trabalhos… Dias depois, fiz um textinho para o encarte do CD. O texto é esse aí:
O convite surgiu por acaso, ao esbarrar com o Guinga numa esquina de Ipanema: “Vou começar a gravar um disco com o Quinteto Villa-Lobos! Pinta lá no estúdio…”
Dois dias depois, lá estou eu, testemunha ocular e auditiva do primeiro dia de gravação deste CD. Na verdade, o encontro de Guinga com o quinteto não é novidade. Eles já se apresentaram juntos em vários palcos e festivais, mas é a primeira vez que gravam um disco com repertório exclusivamente guingueano e com a participação do compositor no violão.
E foi muito bom ver de perto como o erudito e o popular, ambos muito à vontade, se encontram da maneira mais natural. O próprio Villa-Lobos já fazia exatamente isso e não é por acaso que dá nome ao quinteto. Para explicar a química por trás dessa parceria, alguém poderia cometer uma metáfora de alto risco: Guinga seria um diamante bruto lapidado pelos mestres joalheiros Paulo Sérgio Santos, Antonio Carlos Carrasqueira, Luis Carlos Justi, Philip Doyle e Aloysio Fagerlande. Mas nas melodias de Guinga tudo é muito delicado, não tem nada ali que possa ser chamado de bruto – nem mesmo evocando a imagem do diamante.
Voltando ao estúdio: depois de gravar a primeira música, os seis pares de ouvidos privilegiados param para ouvir o resultado. Para mim tudo soava perfeito, sem problemas, mas aí começam os comentários:
– Guinga, vamos fazer esse ralentando no final um pouquinho mais lento?
– Essa nota aqui poderia ser com menos intensidade…
Por um momento, Guinga parece insatisfeito com seu violão:
– O som desse violão não ficou legal, tá me incomodando muito… Deixa eu gravar mais uma, com o outro violão…
É a busca insaciável do som perfeito, do tempo certo, da melhor dinâmica… Um andamento um pouco diferente pode mudar tudo… Eles percebem todos os detalhes.
Até que alguém fala:
– Peraí, assim também já é muito preciosismo.
Mas, pensando bem, sem preciosismo não dá para fabricar uma jóia preciosa.
Mas o que eu queria dizer é que nesse dia, lá no estúdio Cia. dos Técnicos, em Copacabana, Guinga olhava pra mim, olhava para um lado, olhava para o outro e falava: ” Olha só, parece até que o Paulinho tá aqui…”. E se o Comendador estava lá mesmo, devia estar achando o máximo…
Agora ouçam “Dá o Pé, Loro”, uma das 12 composições de Guinga no CD “Rasgando Seda”.
A produção executiva foi de Luis Carlos Pavan (Gargântua Produções) para o Selo Sesc, e as fotos são de Careimi Ludwig Assmann.