Este é um dos e-mails que foram para os anais : uma mensagem do Paulinho para Nei Lopes, de 2002, falando de um fenômeno que começava a preocupar os dois amigos…

Como não temos foto do Comendador pilotando um teclado de computador, vai essa mesmo, batucando na sua Smith-Corona...
De: paulo albuquerque
Para: nei lopes
Em: 1 de outubro de 2002
Assunto: evangélicos x afro
Estive num fórum sobre música popular carioca na semana passada na ABI e numa das falas o Ivanir dos Santos lembrou uma coisa bastante importante. O crescimento dos evangélicos (e há que se fazer uma distinção entre evangélicos e “evangélicos”) representa um perigo real para a cultura afro-brasileira. E ele tem razão. Esse evangelismo de ocasião, por razões econômicas ou eleitoreiras, é excludente. Acho que essa discussão teria que ser mais aprofundada.
Eu – que estou a cavaleiro pra falar disso porque não sou praticante, como você sabe – acho que a tão justamente louvada miscigenação brasileira não deve se circunscrever à cor apenas. Miscigenação, como eu entendo, é mistura de culturas também e aí a cultura africana tem um peso fundamental. Eles, os evangélicos, começam por pregar a proscrição dos ritos religiosos africanos e podem chegar – como lembrou o palestrante – até o samba.
Porra, Nei, não existe música popular no planeta (de boa qualidade, claro) que não tenha como fundamento a África. Aqui mesmo no Brasil – e havia representantes de todas essas correntes no fórum – há o samba, o choro, o jongo, congada, folia de reis, etc. E mais o funk, o reggae, o hip-hop, o rock (de raízes no blues). Independente de gosto pessoal, é certo que todos esses gêneros derivam da cultura negra (e africana).
Esse é um papo que deveria ser levado. E você é a pessoa indicada para isso. Manda ver.
Um abração,
Paulo